Literatura e políticas: energias libertárias à serviço da criação em tempos de transição

Não é muito atrativa, na modernidade, uma crítica voltada, restritamente, à análise dos aspectos formais da obra literária. Os valores estéticos estão, também, à serviço da energia libertária como objeto da dignificação da vida humana. A arte feita de palavras lavra a linguagem de signos do político, do filosófico, do sociológico, mas também, da vida do sujeito historicamente constituído e instituído nas pevides do texto. O político evidencia a máxima pessoana – “Não procures nem creias: tudo é oculto”. Cabe, pois, aos estudiosos da arte (mais do que ele pode ver, de imediato, no texto literário) incursionar, através do olhar do escritor, pois, em muitas obras, “A arte inaugura, antecipa o reino da liberdade, precisamente porque a sua matéria é o homem como ele deve ser, senhor do seu destino e de sua grandeza” (OLIVEIRA, 1991, p. 265), nutrindo-se do assombro do social, do espanto do político que flui na sociedade em ambiguidade do Estado de bem estar social e da sociedade em permanente busca do estado de bem estar. O artífice do pensamento e da imaginação acumula vestígios do espanto das desarticulações do mundo, “na moldura histórica e geográfica, dentro da qual se confundem personagens verdadeiros com fantasmas” (SCHLAFMAN, 1998): o texto literário. Graça Aranha em A viagem maravilhosa no século XIX declarava – “A liberdade sem uma base econômica, sólida e justa, é uma palavra vã. Onde há pobres e ricos, há sempre senhores e escravos. O capitalismo é uma opressão”. Através da secreta linguagem pessoal e emotiva, íntima e reticente o escritor esbulha a história social, posto que ele é um criador, e “ao mesmo tempo, a sua obra está, toda ela, mergulhada no momento histórico que a origina” (RICCIARDI 1971). As obras literárias denunciam as ranhuras do conflito da linguagem e suas escarificações criadas pelo estrangulador discurso do político e suas obras conflituosas.